Gazeta
Mercantil
23/02/1999
Vinke, o touro plebeu vira rei
O nelore da Camargo Corrêa quebra
recordes de produção
Mauro Hosseplan
de São Paulo
Em maio de 1997, aos 48 meses de vida, o
touro nelore Vinke, da Fazenda Morro Vermelho, uma das quatro que compõem o braço
agropecuário do Grupo Camargo Corrêa, ganhou o título de campeão mundial de peso, ao
atingir 1.325 quilos. Impressionado com os dotes físicos do animal, Wagner Louwel Peroto,
gerente geral da empresa, encaminhou Vinke para a linha de produção de sêmen. Acertou
em cheio. Ao produzir 53.777 dose no ano passado, o touro acumulou mais um recorde em seus
seis anos de vida.
Nunca no Brasil um touro produziu tanto
sêmen em apenas 12 meses. Sozinho, Vinke faturou R$537 mil em 1998. Quanto vale um ativo
desses? "Não tem preço porque não está à venda, já virou item de
colecionador", garante Peroto. Se valer como referência, na apólice da seguradora
consta R$500 mil.
Vinke surpreende também porque não é
filho de pais famosos. É comum na criação de gado ou de cavalos cruzar campeões para
aumentar as chances de aprimoramento genético. No caso Vinke, o sêmen utilizado para a
fecundação foi o mesmo usado para outros cruzamentos não tão bem sucedidas e a matriz
"não era nenhuma vaca de exposição", como diz Peroto. "Vinke é um
fenômeno da natureza. É como um Ronaldinho.
O touro produz sêmen há 18 meses na
Pecplan ABS, que fica com cerca de 50% do faturamento e é responsável pela coleta,
congelamento, venda e distribuição do produto. Neste período foram vendidas 79.373
doses. Há 20 mil filhos de Vinke espalhados pelo País. Destes, 1.120 pertencem às
fazendas da Camargo Corrêa. Segundo Peroto, a estratégia agora é transmitir as
características do campeão para o maior número possível de animais.
"Quando esses filhos entrarem em fase
de reprodução e começarem a apresentar resultados, o sêmen do Vinke vai valorizar
ainda mais", diz. É apostando nos frutos da popularização que Peroto coloca o
preço da dose a R$10, abaixo do que considera ser a média de mercado. Como exemplo,
Peroto cita o touro Salon, também da Morro Vermelho, que produziu 12 mil doses de sêmen
em 1998, vendidas a R$15 cada.
A exportação de sêmen do gado brasileiro
está proibida devido às barreiras contra a febre aftosa impostas aos criadores do País.
Segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), foram vendidas no
mercado interno 5.893 milhões de doses no ano passado, sendo 3.080 milhões nacionais e
2.813 milhões importadas. A Pecplan ABS lidera o mercado, com 31,66% de participação
nas vendas do produto nacional e 1323%, nos importados. O volume comercializado em 1998
representa um crescimento de 14,4% sobre 1998.
O Grupo Camargo Corrêa possui um rebanho
de 45 mil cabeças de gado, distribuído por 4 fazendas, em São Paulo, Mato Grosso (duas)
e Mato Grosso do Sul. A maior parte do plantel é destinada a corte, mas a criação de
reprodutores ocupa importante espaço no faturamento da atividade agropecuária da
empresa.
No que depender de Vinke, o sucesso nas
vendas pode durar por mais dez anos, período produtivo estimado para o animal. "O
normal pela média de mercado seria ele produzir por mais seis anos, mas Vinke,
definitivamente, não é normal."
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